Rodrigo Ziviani*
Desde que o videoclipe ganhou identidade própria, com o advento da MTV no início da década de 80, sua influência em outras expressões artísticas só aumentou. No cinema, por exemplo, inspirou o inusitado “Corra, Lola, Corra”, de 1998. A linguagem fragmentada e veloz, consagrada nos anos 2000 pela internet, deixou a telinha e o computador para ganhar os palcos.
Foi isso o que Madonna fez. Ela, que ajudou a criar o videoclipe como o conhecemos hoje, é a responsável por uma fórmula polêmica: o show-videoclipe.
Em sua turnê mais recente, “Sticky & Sweet”, que passou pelo Brasil no final de 2008 e foi encerrada no ano seguinte em Israel, a cantora se utilizou de todos os recursos para transformar seu espetáculo em um set tecnológico e sem intervalos, repleto de estripulias visuais. O DVD, gravado há dois anos no estádio River Plate, em Buenos Aires, Argentina, comprova a tese da primeira à última faixa.
Adotando elementos simples e estratégicos, como bases musicais pré-gravadas, pré-edição, movimento e muita tecnologia, a rainha do pop tornou sua apresentação plasticamente perfeita, porém pagou um preço por isso. Para poder se comunicar com a nova geração, menos culta e acostumada aos vídeos de cinco minutos do Youtube, Madonna concebeu um show poderoso e imagético, porém dependente dos recursos tecnológicos e, por isso mesmo, mais frio.
São 24 músicas milimetricamente ensaiadas, com pouca ou quase nenhuma conversa com o público, que assiste à extravagância como a uma TV gigante.
Popular entre todas as gerações, justamente por manter sua aparência e obra jovens e atuais, Madonna obedece hoje à lei da sobrevivência no mercado competitivo do universo pop. Portanto, adequou-se a ele e às novas formas de se comunicar com os consumidores de música e enlatados culturais, deixando que telões móveis, luzes e plataformas, tudo controlado por computador, dividam espaço com ela, a banda e os dançarinos. A plateia, disposta a pagar 600 reais por ingresso, não quer mais as referências cinematográficas, teatrais e underground que Madonna explorou tão bem no início da carreira. Agora, as palavras de ordem são rapidez e tecnologia. Madonna entendeu o recado. E faz parecer que seu show, de duas horas cravadas, feliz ou infelizmente, não passe de um mero videoclipe de cinco minutos.
Financeiramente, o plano vingou. “Sticky & Sweet” foi vista por mais de três milhões e meio de pessoas, em 32 países, e arrecadou meio bilhão de dólares, estabelecendo um recorde.
*Rodrigo Ziviani é pós-graduado em Comunicação: Linguagens Midiáticas e apresentou como sua tese de conclusão de curso: “Sticky & Sweet” – show ou videoclipe?