domingo, 24 de abril de 2011

Anfion

                                   Cristiane Rodrigues*

Eu procuro
no avesso desta cidade
a Tebas que desejo:
música sem som
erguida vazia sobre larga laje torta,
sustida por ruído redondo
dos carros que
passaram em amplidões construídas.
Apenas o vento
e a vista
no lugar da organicidade.

*Cristiane Rodrigues de Souza, é professora do curso de graduação de Letras e de pós-graduação Comunicação: Linguagens midiáticas do Centro Universitário Barão de Mauá. Ela vive em Ribeirão Preto, é nascida em Adamantina e cresceu na pequena Irapuru, outra cidade paulista. Bastante jovem, é mestre em Letras pela UNESP de Araraquara e atualmente doutora pela USP. Com formação também em música tem estudado a poesia de Mário de Andrade em relação com a crítica de música desse autor.

domingo, 17 de abril de 2011

O show virou videoclipe

Rodrigo Ziviani*

Desde que o videoclipe ganhou identidade própria, com o advento da MTV no início da década de 80, sua influência em outras expressões artísticas só aumentou. No cinema, por exemplo, inspirou o inusitado “Corra, Lola, Corra”, de 1998. A linguagem fragmentada e veloz, consagrada nos anos 2000 pela internet, deixou a telinha e o computador para ganhar os palcos.
Foi isso o que Madonna fez. Ela, que ajudou a criar o videoclipe como o conhecemos hoje, é a responsável por uma fórmula polêmica: o show-videoclipe.
Em sua turnê mais recente, “Sticky & Sweet”, que passou pelo Brasil no final de 2008 e foi encerrada no ano seguinte em Israel, a cantora se utilizou de todos os recursos para transformar seu espetáculo em um set tecnológico e sem intervalos, repleto de estripulias visuais. O DVD, gravado há dois anos no estádio River Plate, em Buenos Aires, Argentina, comprova a tese da primeira à última faixa.
Adotando elementos simples e estratégicos, como bases musicais pré-gravadas, pré-edição, movimento e muita tecnologia, a rainha do pop tornou sua apresentação plasticamente perfeita, porém pagou um preço por isso. Para poder se comunicar com a nova geração, menos culta e acostumada aos vídeos de cinco minutos do Youtube, Madonna concebeu um show poderoso e imagético, porém dependente dos recursos tecnológicos e, por isso mesmo, mais frio.
São 24 músicas milimetricamente ensaiadas, com pouca ou quase nenhuma conversa com o público, que assiste à extravagância como a uma TV gigante.
Popular entre todas as gerações, justamente por manter sua aparência e obra jovens e atuais, Madonna obedece hoje à lei da sobrevivência no mercado competitivo do universo pop. Portanto, adequou-se a ele e às novas formas de se comunicar com os consumidores de música e enlatados culturais, deixando que telões móveis, luzes e plataformas, tudo controlado por computador, dividam espaço com ela, a banda e os dançarinos. A plateia, disposta a pagar 600 reais por ingresso, não quer mais as referências cinematográficas, teatrais e underground que Madonna explorou tão bem no início da carreira. Agora, as palavras de ordem são rapidez e tecnologia. Madonna entendeu o recado. E faz parecer que seu show, de duas horas cravadas, feliz ou infelizmente, não passe de um mero videoclipe de cinco minutos.
Financeiramente, o plano vingou. “Sticky & Sweet” foi vista por mais de três milhões e meio de pessoas, em 32 países, e arrecadou meio bilhão de dólares, estabelecendo um recorde.

*Rodrigo Ziviani é pós-graduado em Comunicação: Linguagens Midiáticas e apresentou como sua tese de conclusão de curso: “Sticky & Sweet” – show ou videoclipe?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Competência comunicativa


Marília Marcucci*

Quanto uma carreira bem sucedida depende de uma boa comunicação? E, quanto a comunicação pode ajudar no crescimento de uma carreira?
Para ter êxito profissional não basta conhecer o assunto e ser um excelente técnico. É essencial saber comunicar o que se sabe, abstrair ideias, construir bons argumentos e dialogar com os inúmeros discursos que circulam em nosso universo profissional.
O primeiro passo recomendado àqueles que desejam aprimorar sua competência comunicativa é sujeitar os seus discursos a uma avaliação sociolinguística, para saber em que nível está essa competência. Um trabalho de aprimoramento, como aulas de redação ou oratória, só terá eficácia se estiver fundamentado em uma análise detalhada dos discursos produzidos pelo falante (usuário da língua).
O conceito de sociolinguística está ligado ao estudo da língua em uso no seio das comunidades de fala, relacionando aspectos linguísticos, sociais e culturais. A competência comunicativa diz respeito à habilidade de se comunicar, adequadamente, às diversas situações de interação.
São, por exemplo, objetos de análise, para apreensão da competência comunicativa, as modalidades fala e escrita; o plano situacional, a posição dos receptores e o assunto abordado; os graus de informalidade/formalidade e de competência/performance; os níveis de variação linguística; entre outros aspectos de escolaridade, faixa-etária, atividade profissional, aspecto coletivo etc.
Se a minha comunicação é de modalidade escrita e tem caráter formal, porque será dirigida a uma publicação científica, por exemplo, ela exigirá um grau mais elevado de abstração, o domínio de uma metalinguagem específica, e principalmente, o conhecimento da língua padrão, porque erros gramaticais são imperdoáveis nesse contexto. Por outro lado, se a minha comunicação é formal, mas de modalidade fala, o grau dessas exigências é diferente, e o bom uso delas depende mais de adequação à situação de comunicação do que de modelos preestabelecidos.
O fato é que o investimento na competência comunicativa não é uma necessidade apenas da área acadêmica ou dos profissionais de linguagens midiáticas e de comunicação, mas de todos aqueles que desejam crescer em seus campos de trabalho e atuar com segurança na carreira profissional, trocando informações, sabendo conduzir pessoas e expressar aquilo que sabe, persuadindo e vendendo ideias.
Se com o auxílio da comunicação, podemos mudar o rumo de histórias medianas e transformá-las em sucesso, ter consciência da competência comunicativa, buscando, sempre, o seu aprimoramento, representa um passo significativo em direção ao desenvolvimento.

*Marília Marcucci é redatora e assessora de comunicação da Moore Stephens e ex-aluna do curso de Pós-Graduação Comunicação: Linguagens Midiáticas.

e-mail: mary@msbrasil.com.br